Hoje, 8, organizações feministas e de direitos humanos convocaram um protesto para as 16h (horário Brasília), na Praça do Congresso, em Buenos Aires, e em outros pontos do país, para marchar a favor dos direitos das mulheres. Uma carta com o título “Aqui estamos. Fomos maré e seremos tsunami” está prevista para ser lida no final do ato.
O texto, divulgado em primeira mão no jornal Página 12, afirma que a liberdade é das mulheres, e não dos mercados e dos governos, e que as argentinas estão diante de um governo autoritário, preocupado em avançar com um plano motosserra, querendo tirar direitos das mulheres, inclusive a legalização do aborto, conquistada em 2020. O manifesto, que tem oito páginas, finaliza com um recado ao presidente:
Milei, não temos medo de você. Nenhum passo atrás. Fomos maré e seremos tsunami.Carta das organizações feministas
Protocolo anti-protesto
O ato de hoje ocorre no contexto do protocolo anti-protesto, do Ministério da Segurança, que proíbe a obstrução de vias públicas. Há uma expectativa sobre essa manifestação, tendo em vista que, historicamente, as mulheres argentinas mobilizam milhares de pessoas nas ruas de Buenos Aires e do restante do país. Além disso, é o primeiro ato da “maré verde” que Milei enfrenta. Entre grupos de whatsapp de organizações sociais que estarão no ato, fala-se muito sobre a segurança de cada mulher, para não ir ao ato sozinha e evitar confronto com a polícia.
No caso da Argentina, além da luta a favor dos direitos das mulheres, também se protesta contra os retrocessos desses direitos, já que a marcha de hoje ocorre em um momento em que o governo Milei avança contra direitos conquistados em anos anteriores e faz diversos ataques ao feminismo e à diversidade de gênero.
Conquista das mulheres
Uma das principais bandeiras defendidas nas ruas é a verde, a cor que ficou mundialmente conhecida pela luta das mulheres argentinas, com seus lencos verdes, em defesa da discriminalização do aborto desde 2018, até a sua legalização no final de 2020, sancionada em janeiro de 2021. Esse símbolo se transmutou e, atualmente, vai além do defesa da descriminalização do aborto e se constitui como uma marca que busca politizar o machismo.
De acordo com dados oficiais, mais de 245 mil procedimentos de interrupção de gravidez foram realizados no setor público desde a legalização do aborto, em 2021, com maior incidência na província de Buenos Aires, além de Salta e Jujuy (norte do país). Na Argentina a interrupção voluntária da gravidez é legal e gratuita até a décima quarta semana de gestação.
Projeto quer derrubar aborto
O presidente Javier Milei, que aboliu o Ministério de Mulheres e Igualdade de Gênero, se manifestou em diversas oportunidades contra a lei de aborto. Seu governo deu indícios que derrubar a lei está no horizonte. No inicio de fevereiro, o partido de Milei, o Liberdade Avança, apresentou um projeto na Câmara dos deputados para revogar a lei do aborto.
Entre os apoiadores de Milei, há quem defenda que a interrupção voluntária da gravidez seja legal e pública mas não gratuita, justificando quem quem engravida e quer fazer um aborto deve pagar pelo procedimento. Esse argumento não considera mulheres em situação de vulnerabilidade socioeconômica.
Na semana passada, o governo proibiu o uso da linguagem neutra e o uso de nomes no feminino em toda a administração pública. Está proibido, por exemplo, dizer a palavra “sargenta”para designar a função no feminino.
Em 2021, a Argentina havia reconhecido o cuidado materno como trabalho, prevendo a garantia da aposentadoria para pelo menos 155 mil mulheres com mais de 60 anos, que não conseguiram completar os 30 anos de contribuição por terem se dedicado à maternidade.
Reportagem
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