Um ex-interno do centro de recuperação interditado pelo Ministério Público da Bahia (MP-BA), em Feira de Santana, cidade a 100 km de Salvador, relatou que já chegou a ficar dez dias sem tomar banho e cinco sem se alimentar no local. O homem, que preferiu não revelar a identidade, também contou que sofreu agressões físicas por não querer participar de cultos.
“Comer comida vencida, apanhar. Às vezes eu levava 10 dias sem tomar banho, porque não tinha água. Eu chegava a ficar até cinco dias sem me alimentar”, contou um interno, que preferiu não revelar a identidade por medo.
Na terça-feira (4), além da interdição do Centro de Recuperação Projeto de Instituição Evangelizar, conhecido como Centro de Recuperação IDE, quatro responsáveis pelo local foram presos, suspeitos de manter 20 idosos e enfermos em cárcere privado.
As investigações do MP-BA apontaram:
👉 Falta de estrutura nos dormitórios e refeitório;
👉 Na dispensa, foram encontrados cerca de quatro toneladas de alimentos estragados ou com a data de validade vencida há pelo menos dois anos;
👉 Câmara fria com centenas de carnes podres;
👉 Internos que se recusavam de participar dos cultos realizados ou se rebelavam eram colocados em um pocilga, curral que se cria porcos, com mau cheiro.
Qualquer palavra que ofendesse o proprietário era motivo de castigo. Se você não fosse para o culto, era motivo para tomar surra”, denunciou o interno.
O homem contou ainda que nunca tinha sido agredido antes de morar no local.
“Lá tomei vária pauladas e fui furtado. Perdi tudo que tinha de roupa, tênis, carro, moto e hoje não consigo andar sozinho, porque tenho medo da minha vida”.
O interno ainda afirmou que tem feito tratamento psicológico e está afastado do emprego por causa das violências sofridas no centro de recuperação.
“Até meu benefício deste mês, que era para pagar minhas contas, eles já sacaram. Estou pedindo a Deus para que me livre disso o mais rápido possível”, afirmou desesperado.
O Centro de Recuperação Projeto de Instituição Evangelizar já tinha passado por uma inspeção do MP-BA no final do ano passado. Na ocasião, foi recomendado algumas readequações, mas as equipes não tinham encontrado irregularidades consideradas graves.