A morte de um adolescente de origem argelina de 17 anos pela polícia nos subúrbios de Paris, nesta terça (27), provocou distúrbios nas ruas da cidade, com enfrentamentos das autoridades e cerca de 40 carros queimados. A abordagem e o tiro foram filmados por uma testemunha e o vídeo se espalhou rapidamente pela mídia francesa e pelas redes sociais.
Ao menos 31 pessoas foram presas nessa noite, quando jovens atiraram pedras e dispararam fogos de artifícios contra policiais, que respondeu atirando bombas de gás lacrimogênio.
Já nesta quarta (28), o premiê francês Emmanuel Macron clamou por justiça. “Temos um adolescente que foi morto, é inexplicável e indesculpável. Nada justifica a morte de um jovem”, disse. Promotores abriram uma investigação de assassinato.
O ministro do interior, Gérald Darmanin, pediu calma à população e afirmou que 2.000 policiais seriam mobilizados em toda a França na noite desta quarta para conter qualquer nova agitação.
No vídeo, há dois policiais de capacete próximos à janela do motorista de um carro de luxo amarelo. Um deles aparentemente está conversando com o rapaz enquanto o outro aponta a arma.
Após alguns segundos, o motorista acelera, ao que o policial armado reage atirando uma vez. Poucos metros depois, sem direção, a Mercedes AMG sobe numa calçada e bate num poste. O rapaz morreu cerca de uma hora depois.
O caso aconteceu por volta das 8h15, em Nanterre, na região oeste de Paris. Duas outras pessoas estavam no carro, sendo que uma delas foi interrogada e liberada e a outra está foragida. A polícia informou que os policiais tentaram parar o carro após o motorista cometer várias infrações de trânsito. Mas ele teria fugido, antes de ficar preso num congestionamento.
O ministro do interior disse que os dois policiais são membros experientes da polícia de trânsito, na casa dos 30 e início dos 40 anos, e não tinham registro de má conduta. Darmanin acrescentou que “um ato como o que vimos, se a investigação confirmar os vídeos que vimos, nunca se justifica”.
No TikTok, uma mulher que se identificou como a mãe do rapaz morto convocou pessoas a irem às ruas de Nanterre nesta quinta-feira. “Venham todos, vamos liderar uma revolta pelo meu filho”, disse ela.
O advogado da família, Yassine Bouzrou, afirmou: “Você tem um vídeo que é muito claro: um policial matou um jovem de 17 anos. Podemos ver que aquele tiro não está dentro das regras”.
O mesmo disse a primeira-ministra francesa, Elizabeth Bourne, na Assembleia Nacional, ao comentar que a ação “parece claramente não cumprir as regras de engajamento de nossas forças policiais” e que “toda a nação foi afetada por esta tragédia”. Os legisladores fizeram um minuto de silêncio.
Grupos de direitos humanos alegam racismo sistêmico dentro das agências policiais. “Como mãe de Nanterre, sinto insegurança por nossos filhos”, disse à Reuters Mornia Labssi, moradora local e ativista antirracismo.
Essa é a segunda mote por tiros de policiais na França durante batidas de trânsito neste ano. Em 2022, houve um recorde de 13 mortos nessas circunstâncias. Em 2021, esse número foi de três, e, em 2020, de dois.