A energia dos tambores da Bahia ganhou forma em “Mundo Afro”, álbum que reúne alguns dos mais importantes blocos afro e afoxés de Salvador. O projeto foi realizado com apoio do Viva Cultura, programa da Prefeitura, por meio da Fundação Gregório de Mattos (FGM), que investe na arte e fortalece a cultura local por meio de incentivos fiscais.
O disco é uma antologia da música afro-baiana, reunindo sete entidades que marcaram a história cultural da cidade, como Filhos de Gandhy, Ilê Aiyê, Olodum, Malê Debalê, Muzenza, Didá e Cortejo Afro. O trabalho conta com 21 faixas gravadas com alta qualidade técnica e artística, sob produção musical de Alê Siqueira.
Fernando Guerreiro, presidente da FGM, afirma que Mundo Afro não é apenas um disco, mas um registro vivo da história, um gesto de resistência e um ato de preservação que garante a permanência da memória cultural da capital baiana ao longo das gerações.
“O Mundo Afro é um trabalho especial e valioso por registrar e marcar, de forma histórica, a produção musical dos principais blocos afro de Salvador. Esse registro preserva a memória, garantindo que fique disponível para sempre, e, ao mesmo tempo, valoriza o trabalho cultural e musical desses grupos. Trata-se de um grande acerto e de um verdadeiro patrimônio”, comentou Guerreiro.
Para Mário Pam, mestre do Ilê Aiyê, o álbum também carrega o peso simbólico dos 50 anos da criação dos blocos afro, marcados pela fundação do Ilê no bairro do Curuzu. Ele destaca que participar desse registro coletivo reforça a importância histórica e social dessas instituições.
“Foi muito importante para a gente fazer parte desse projeto, que reúne uma parte importante dessas instituições, tocando percussão e cantando canções que falam sobre as questões do povo negro de Salvador”, disse Mário Pam.
O produtor musical Alê Siqueira explica que a proposta foi construir um panorama amplo e fiel da percussão afro-baiana, respeitando a singularidade de cada grupo. Ele ressalta que o álbum combina tradição, pluralidade e poesia em um diálogo entre ancestralidade e contemporaneidade.
“A ideia foi produzir um disco que apresentasse um panorama do universo percussivo afro-baiano, com toda sua pluralidade, diversidade, polirritmias, porque cada bloco tem sua própria linguagem, seus toques e convenções particulares, que dão um sotaque e uma identidade poética única, mas sempre ligados às tradições matriciais africanas. Tudo isso em diálogo com a força dos cantos, também com grande influência ancestral, e com as letras profundas, que trazem poesia e reflexão”, afirmou Siqueira.
O presidente do Cortejo Afro, Rogério Alves de Oliveira, destaca o caráter inédito do projeto e a importância de um registro coletivo que valorize o repertório das entidades. Ele acredita que o álbum pode abrir novas portas e gerar ainda mais visibilidade para a música afro de Salvador.
“Nossa expectativa é que este álbum possa gerar outras oportunidades, dando visibilidade a essa produção musical que é densa e constante; que alimenta, por exemplo, os festivais de música que existem e persistem, mobilizando compositores e artistas todos os anos”, disse.
As gravações aconteceram na sede do Malê Debalê, em novembro de 2024, com a percussão registrada ao ar livre. Débora Souza, vice-presidente da Didá, avalia a experiência como desafiadora e enriquecedora, tanto pelo aspecto técnico quanto pelo simbólico. Ela reforça ainda a força feminina representada no projeto.
“Trouxe desafios e oportunidades. Por um lado, captar a pureza dos sons em um ambiente natural proporcionou uma qualidade acústica distinta; por outro, houve a necessidade de adaptação às condições climáticas e outras variáveis externas. A participação da Didá no projeto não só destacou a força e a criatividade das mulheres no cenário musical, mas também reforçou a importância da preservação e celebração das tradições culturais afro-brasileiras”, comentou Débora.
A produção do álbum é da Janela do Mundo, com distribuição da Altafonte, que inscreveu o projeto em quatro categorias do Grammy Latino. O resultado da seleção será divulgado em 17 de setembro e, se aprovado, o disco seguirá para a etapa final da premiação, marcada para 13 de novembro.
“Para nós, enquanto distribuidora digital, é um verdadeiro privilégio poder contribuir para dar visibilidade a uma iniciativa de tamanha relevância cultural, que valoriza e celebra as raízes brasileiras. Estamos entusiasmados em fazer parte deste movimento que conecta tradição, identidade e música, reforçando nosso compromisso em apoiar a música brasileira”, diz Mônica Brandão, Country Manager Altafonte Brasil
O Viva Cultura, que permitiu a criação do álbum, é um programa que transforma impostos em investimento cultural. Por meio dele, empresas podem apoiar iniciativas artísticas locais, recebendo isenção fiscal parcial ou total, a depender da modalidade escolhida. Criado para democratizar o acesso ao fomento, o programa está aberto a pessoas físicas, jurídicas, coletivos culturais e até microempreendedores individuais (MEIs) sediados em Salvador.