A Suécia entrou nesta quinta-feira (7) na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
A medida ocorre uma semana depois de o parlamento húngaro ter aprovado com 188 votos a favor e seis contra a entrada da Suécia —após adiar a decisão por mais de 18 meses. Para ingressar na Otan, era preciso a aprovação de todos os integrantes da organização.
O primeiro-ministro sueco, Ulf Kristersson, entregou a documentação final ao governo dos Estados Unidos nesta quinta, última etapa no processo de admissão na aliança militar. Veja mais abaixo o que muda com a entrada da Suécia na Otan.
“Hoje é um dia verdadeiramente histórico. A Suécia agora é membro da Otan. A Suécia é um país mais seguro hoje do que éramos ontem. Temos aliados. Temos apoio”, disse Kristersson. “Defenderemos a liberdade junto com os países mais próximos de nós – em termos geográficos, culturais e de valores”, completou.
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse que “tudo mudou” após a invasão da Rússia à Ucrânia, citando pesquisas que mostram uma mudança expressiva na opinião pública sueca sobre o ingresso do país na Otan. Blinken recebeu em mãos os documentos do primeiro-ministro sueco.
“Os suecos perceberam algo muito profundo: que se Putin estiver disposto a tentar apagar um vizinho do mapa, então ele poderia muito bem não parar por aí”, disse Blinken.
O presidente dos EUA, Joe Biden, também comemorou a entrada da Suécia na aliança, que “tornou a Otan mais unida, determinada e dinâmica do que nunca”.
Em comunicado, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, disse que “a adesão da Suécia torna a Otan mais forte, a Suécia mais segura e toda a aliança mais segura”.
O que muda com a Suécia na Otan?
Com a Suécia participando da Otan, toda a costa do Mar Báltico fará parte do território da aliança – com exceção da costa da Rússia e Kaliningrado. Ou seja, no caso de um ataque russo, por exemplo, seria mais fácil defender os países bálticos.
O Mar Báltico também é estratégico do ponto de vista comercial: é uma rota de acesso marítimo aos portos de São Petersburgo e Kaliningrado, ambos na Rússia.
Em 2023, um porta-voz da Rússia disse que a entrada da Suécia na aliança, na ocasião ainda uma possibilidade, traria consequências “negativas”, e que Moscou responderia com medidas “antecipadas” e “planejadas”.
Além disso, o exército sueco e todo equipamento militar do país também vão pertencer à Otan.
Apesar do país ser pequeno – ter uma força militar de aproximadamente 50 mil pessoas (sendo metade reservista) –, Simon Koschut, que ocupa a cadeira de política de segurança internacional na Universidade Zeppelin em Friedrichshafen, na Alemanha, afirmou à agência DW que “os suecos têm um exército muito moderno, em particular uma força aérea moderna de fabricação própria”.
O país também é conhecido por sua potência marítima com submarinos. Tanto que já participaram de algumas missões da Otan, como no Afeganistão. Segundo o especialista, a localização geográfica do país é a principal razão pela qual a adesão da Suécia à Otan seria tão atraente.
Os suecos se comprometeram ainda a aumentar os gastos com defesa para atingir a meta da Otan de 2% do produto interno bruto.
Vale lembrar que a Suécia manteve-se fora de alianças militares durante mais de 200 anos e por muito tempo descartou a possibilidade de aderir à Otan. Mas, quando começou o conflito entre Ucrânia e Rússia, em fevereiro de 2022, o país decidiu pleitear a entrada na aliança.
Dessa forma, com o ingresso na organização, a grande mudança está relacionada ao Artigo 5 do tratado da Otan, que diz que um ataque armado contra um país da organização é considerado um ataque contra todos. Quando isso acontece, a aliança militar se compromete a prestar assistência.
Outra vantagem é que os suecos seriam membros plenos do Conselho da Otan, o principal órgão de decisão da aliança, e teriam direito de veto —como a Hungria, que segurou até então a entrada do país na organização.
Porém, Deborah Solomon, da Sociedade Sueca de Paz e Arbitragem, em entrevista à BBC, afirmou que o país pode perder a figura de pacificador e de liderança na luta pelo desarmamento nuclear. Isso porque os Estados Unidos, por exemplo, pressionaram diversos integrantes da organização para não participarem das negociações de desarmamento da ONU em 2019.