Iniciativa já garantiu mais de 26 mil atendimentos em 2025 e se consolida como porta de entrada para saúde, cidadania e proteção social
Em meio aos desafios históricos enfrentados pela população em situação de rua, Salvador tem fortalecido uma política pública baseada no cuidado em liberdade, na redução de danos e na garantia de direitos. Os Pontos de Cidadania, integrados à Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), vêm se consolidando como espaços estratégicos de acolhimento, escuta qualificada e acesso a serviços essenciais, promovendo cidadania e cuidado integral nos territórios.
A iniciativa integra o Projeto Girassóis de Rua, uma parceria entre a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) e a S3 Gestão em Saúde, e atua como elo entre pessoas em situação de vulnerabilidade extrema e a rede pública de saúde, assistência social, justiça e proteção social.
Cada Ponto de Cidadania conta com equipes multiprofissionais, formadas por psicólogos, enfermeiros, assistentes sociais, sanitaristas, redutores de danos, arte-educadores, motorista e coordenação técnica. O atendimento se inicia pelo acolhimento, etapa fundamental para identificar demandas imediatas e construir, junto ao usuário, estratégias de cuidado que envolvem desde atenção em saúde até apoio para emissão de documentos, orientação sobre direitos e fortalecimento da autonomia. Somente em 2025, os Pontos de Cidadania já registraram 26.640 acessos, o que representa uma média aproximada de 50 atendimentos e acessos diários por unidade — um indicador que evidencia tanto a demanda existente quanto a relevância do serviço para a cidade.
Atualmente, Salvador conta com dois Pontos de Cidadania, localizados nos bairros do Aquidabã e de Itapagipe. As unidades funcionam de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h, e aos sábados, das 8h às 12h, oferecendo acolhimento espontâneo, atividades de autocuidado, ações educativas e encaminhamentos para a rede de serviços. Os espaços funcionam em módulos estruturados semelhantes a contêineres, projetados para garantir conforto e dignidade. As unidades são climatizadas, passam por higienização permanente e dispõem de sanitários, área de banho e ambiente reservado para atendimentos. Além disso, a própria rua torna-se um espaço multifuncional, onde ocorrem oficinas, rodas de conversa e atividades coletivas, reforçando o cuidado no território e a aproximação com a comunidade.
Entre as ações desenvolvidas estão a distribuição de kits de higiene, acesso a banho, sanitários, água mineral, oficinas de saúde e educação, rodas de conversa sobre saúde mental, sexualidade, prevenção às violências, uso de substâncias psicoativas, além de atividades que estimulam vínculos comunitários, autonomia e reconstrução de projetos de vida. O cuidado acontece no território e parte da escuta das necessidades reais de cada pessoa atendida.
Para Andrea Laís, gerente do Projeto Girassóis de Rua, os Pontos de Cidadania representam um avanço concreto no enfrentamento das desigualdades. “A presença contínua das equipes nos territórios permite um acolhimento humanizado, que respeita as trajetórias individuais e garante acesso a direitos muitas vezes negados a essa população. Nosso compromisso é reduzir barreiras, promover dignidade e fortalecer o vínculo com a rede pública, ampliando o alcance das políticas sociais e de saúde”, destaca.
Atendimento humanizado e atuação em rede
A atuação é totalmente integrada à rede intersetorial do município, com articulação direta com unidades da Atenção Básica, CAPS, hospitais, CRAS, CREAS, albergues, Defensoria Pública, Ministério Público, instituições de ensino, iniciativas culturais e programas de geração de renda. Esse trabalho em rede garante continuidade do cuidado e evita que a pessoa atendida fique à margem dos serviços públicos.
As equipes também participam semanalmente de momentos de formação continuada e supervisão técnica, prática que fortalece as abordagens, qualifica o cuidado ofertado e amplia a efetividade das ações nos territórios.
Ao fortalecer estratégias que unem saúde, cidadania e proteção social, os Pontos de Cidadania reafirmam o papel do SUS e das políticas públicas como instrumentos de inclusão, dignidade e justiça social — mostrando que cuidar da população em situação de rua é, acima de tudo, um compromisso ético com a cidade e com a vida.